sábado, 1 de fevereiro de 2014

Imbecil

Eu realmente devo ser muito trouxa. Um verdadeiro imbecil, para ser tratado desse jeito. Infelizmente, algumas coisas não mudam, por maior que seja nosso esforço e a nossa vontade de mudar.

Novamente me pego na mesma situação: Nu, enjaulado, faminto, ferido, com frio e chorando no meio de um jantar feliz e alegre. As chaves estão nas minhas mãos, e logo à minha frente, vejo minhas roupas, alimento, curativos e pessoas que amo, prontas para me acolher.

Mas eu tenho medo. Eu sou burro.

Mesmo no meio de tantas necessidades básicas não preenchidas, eu permaneço olhando pela janela para a outra casa, para o outro jantar. Pouco conheço os que ali estão, mas meu anseio de estar lá é tão grande que não percebo o óbvio: Tudo que eu preciso está à minha frente, ao alcance, disponível, sem dor.

Mas eu sou burro.

Tudo que quero é arrebentar essa jaula à força, quebrar a janela com meus próprios punhos, pular no jardim, correr, gritar, superar os muros altos e envoltos em arame farpado, conquistar roupas novas, me curar sem a ajuda de outras pessoas e mostrar que sou capaz, que mereço reconhecimento pelo meu trabalho. Anseio o amor daqueles que não me amam, e isso me torna o maior egoísta filho da puta desse mundo. Descarto o óbvio, e permaneço em necessidade.

Essa é minha analogia ao amor. Mais uma vez, persegui o impossível, ganhei novas cicatrizes e fui abençoado com o dom de talhar cortes profundos em meu próprio coração. Quem mais faria isso? É claro, só um imbecil. Como eu.

Errar é humano. Permanecer no erro é burrice. Permanecer no erro e sofrer dia após dia negando o óbvio, isso sou eu.

Rogerio Olanda.

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