terça-feira, 30 de junho de 2020

Cheiro de papel queimado

A água ferve e a rua permanece em silêncio. Aqui dentro apenas eu, meus pensamentos e esse cheiro de papel queimado.
O desafio de hoje e traduzir, em breves linhas, aquilo que não se compreende dentro do peito. A dor, as dores, a aflição e a pressa.
Hoje, não tenho nome ou face, sou apenas o homem de feição abatida, cinza, na multidão. De longe sou invisível, pratico verdadeiras acrobacias urbanas numa triste e falha tentativa de passar batido. Não tenho parentes nem responsabilidades. Tudo o que eu tenho são histórias tristes e esse cheiro de papel queimado.
Olho para o céu e admiro a garoa querendo virar chuva. Minha boca seca, meus olhos cerrados e minha testa franzida.
Tudo isso por causa desse maldito cheiro de papel queimado.