quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Sem Tempo

 Quanto mais eu vivo, menos eu quero viver. Quanto mais eu ganho de experiência, mais sinto que estou perdendo.

 

A vida é injusta, é uma sucessão de canalhices orquestradas por gente que não está nem ai pra mim ou pra você. É um mar de merda, e aprender a navegar sem se sujar, cansa.

 

Me cansou.

 

Eu não aguento mais. Eu preciso de um alivio, de um refúgio, de um resgate. Eu preciso ser resgatado. O problema é que nesse mar de bosta, não existe nenhum herói. Ninguém vai vir te buscar quando você se machucar, e ninguém vai aparecer magicamente com uma solução. Tudo depende de você. De mim. De nós.

 

Tudo.

 

Eu não quero mais ser uma criança chorona, mas ninguém me ensinou a ser um adulto forte. Meus exemplos são falhos e eu os reproduzo com primor, especialmente aqueles que eu mais quero fugir.

 

Eu quero fugir. De tudo. De todos.

 

Minha cabeça é o pior lugar para se estar, pintei minhas piores memórias na sala de estar e joguei a chave fora. As janelas estão enegrecidas com a fumaça que sai do chão, e eu me perco em mim mesmo. Tudo passa.

 

Tudo passa, e, ao mesmo tempo, tudo fica. As dores. Os cortes. As cicatrizes.

 

O medo.

 

Nem ouso pisar no meu próprio quarto. É ali que a tristeza habita em mim, deitada na cama, com olhos fundos, gigantescos, como uma aranha. Suas vestes rasgadas, sua loucura em poucos tufos de cabelo e seu murmúrio, incompreensível, me afastam ao mesmo tempo que me chamam pra perto.

 

Eu, de fato, não aguento mais.

 

Eu sei onde escondi a chave. Eu sei onde está a fechadura.

 

Só não sei onde está minha força. Essa, me foi subtraída.

 

Sumiu. Será que ela era limitada? Será que usei toda minha força em coisas que não me trouxeram nada, além de dor?

 

Me resta trabalhar. Trabalhar e confiar. Em quê e no quê, sinceramente, não sei mais dizer.

 

Só sei que eu sigo aqui.

 

Triste.

 

Desesperado.

 

Perdido.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Boas perguntas e a teoria do sentido da vida

 O que vem depois da morte?

 

Boa pergunta. Eu tenho uma teoria.

 

Antes de tudo, éramos algo. Não sei descrever exatamente, mas éramos. Havia a consciência coletiva e um propósito, o qual desconheço. Não tínhamos nossa forma física, mas algo etéreo, existindo em um lugar que não precisa de limites físicos para existir. Lá, éramos uma grande multidão, em um só coro, enquanto consciência coletiva, em prol deste objetivo comum que não sei identificar. Tempo, neste lugar, também é insignificante: Não existem dias, horas ou minutos, apenas a existência (individual e coletiva). Em algum momento, fomos designados a uma escolha: A escolha da nossa vida.

 

Gosto de pensar que, antes do nosso nascimento, houve uma grande assembleia e nos foi dado o livre arbítrio de sermos como quisermos, porém, com todas as consequências sabidas. É como se soubéssemos exatamente todas as possibilidades daquele conjunto de escolhas sobre a pessoa, índole e caráter, e como isso funcionaria durante nosso período em vida. É aqui eu me perco em pensamentos, é neste momento em que algo no meu peito diz que encontramos todas as pessoas de nossas vidas e como vamos nos relacionar com elas, também embasados nas escolhas individuais: Pais, irmãos, cônjuges, enfim, todos os relacionamentos de nossas vidas, e tudo está conectado. Por causa da nossa escolha em ser A, B e C, teremos X, Y e Z como parentes, pois as escolhas destas pessoas também as colocaram nessas posições, e vice-versa, assim como pessoas que vamos encontrar ao longo de nossas vidas, e todos estes encontros possuem um motivo para acontecer.

 

E é assim que nascemos. Com um propósito, mas sem clareza. Um ser relacional, que precisa de outro para nascer, sobreviver e poder fazer as suas escolhas, em vida. Dentro de tudo que já foi sabido anteriormente.

 

Eu tenho plena convicção de que todos coexistimos e que tudo que fazemos, importa. Quando falamos algo, quando fazemos algo que foge de nossa mente, estamos interferindo na ordem das coisas, portanto, o “efeito borboleta” se faz real.

 

“Mas tem gente que escolhe ser ruim?”

 

Sim. O tempo todo.

 

“Se fosse assim, todo mundo ia querer ser milionário e belo”

 

Concordo. Mas essa afirmação vem da nossa consciência atual, não da nossa consciência coletiva, que determinou tudo que somos, podemos ser e como seremos à partir de cada decisão.

 

“Então quando a gente morrer, o que acontece?”

 

Boa pergunta. Eu tenho uma teoria.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A primeira de 2024

Não sei quanto tempo ainda tenho, ou se ainda há tempo de resolver tudo que precisa ser resolvido.


Quando tudo vai ficar fácil? Qual é o limite da dor?


Sentir já não sinto mais, só existo. Aliás, não existo. Sobreviver nem sempre é viver.


Um desabafo, por favor. Vamos conversar sobre as dores da vida, talvez a gente se encontre em alguma curva de rio ou fundo de poço.


Garçom, tem aquele destilado que vicia e corroe por dentro? Sirva duas doses, por favor. Uma pra mim e outra para a pessoa que eu me tornei.


Me perdoe a interrupção. Continue, por favor. Lamente suas dores sobre meus ouvidos, vou me atentar aos seus trejeitos enquanto presto atenção em cada palavra que sai da sua boca.


Até que esse veneno me vença. Até que eu perca a luta.


Garçom, fecha a conta e passa a régua. O bar já fechou e eu ainda estou aqui.


Sozinho.


Eu e a pessoa que me tornei.